Em lugar onde a guerra tinha morto até a estrada, um velho e um miúdo que procura os seus pais seguem caminhando, bamboleantes, como se tivesse sido esse o seu único serviço desde que nasceram... Assim começa "Terra Sonâmbula", por aqui seguirá o seu caminho, através da transposição para o teatro desses traços tão marcantes da essência, da forma de comunicação, da singularidade e da poética de Mia Couto. Como fazer valer a força de uma arte do espaço e da presença para que ressoe a profundidade de uma escrita tão singular, tão única é tão bela?
A cumplicidade e identificação com premissas e paradigmas que norteiam uma ideia de teatro hoje, estão na génese do encontro de Nuno Pino Custódio com a actriz Rosinda Costa (Teatro do Vestido), com quem partilharam tempo, em Maputo, com o escritor moçambicano, nascendo deste cruzamento a vontade de verter para a espacialidade este tão aclamado romance. Recorrendo a princípios que se identificam com a perspectiva de um Teatro Total, o corpo de uma actriz faz-se ferramenta absoluta na evocação de espaços, tempos, personagens, emoções, acções.
A Estação Teatral, volvida uma década, retorna à utopia de uma diáspora, depois de justamente em 2004 ter-se feito ao caminho e atravessado distâncias atlânticas com a sua primeira peça, "Mãe Preta".